martes, 11 de mayo de 2010

Álvaro de Campos - Meu coração, mistério batido pelas lonas dos ventos...

Meu coração, mistério batido pelas lonas dos ventos...
Bandeira a estralejar desfraldadamente ao alto,
Árvore misturada, curvada, sacudida pelo vendaval,
Agitada como uma espuma verde pegada a si mesma,
(...)
Para sempre condenada à raiz de não se poder exprimir!
Queria gritar alto com uma voz que dissesse!
Queria levar ao menos a um outro coração a consciência do meu!
Queria ser lá fora...
Mas o que Sou? O trapo que foi bandeira,
As folhas varridas para o canto que foram ramos,
As palavras socialmente desentendidas, até por quem as aprecia,
Eu que quis fora a minha alma inteira,
E ficou só a chapéu do mendigo debaixo do automóvel,
Estragado estragado,
E o riso dos rápidos Soou para trás na estrada dos felizes...
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Mi corazón, misterio batido por las lonas de los vientos...
Bandera ondeante arrebatadamente en lo alto,
árbol mezclado, curvado, sacudido por el vendaval,
agitado como una espuma verde pegada a sí misma,
(...)
¡condenada para siempre a la raíz de no poder expresarse!
¡Quisiera gritar fuerte como una voz que afirmase!
¡Quisiera llevar al menos a otro corazón la conciencia del mío!
Quisiera estar allá afuera...
Pero ¿qué soy? El trapo que fue bandera,
las hojas barridas hacia el rincón que fueron ramas,
las palabras no entendidas socialmente, ni por quien las aprecia,
Yo que quise ser mi alma entera,
y quedé tan sólo como el sombrero del mendigo bajo el automóvil,
aplastado aplastado,
y la carcajada de los rápidos sonó por detrás en la calle de los felices.


10-5-1929
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa.

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